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23 de junho de 2013

Senet: o jogo dos deuses - Prólogo

Sinopse: Para se divertir na eternidade, Osíris, Rá, Hórus e os demais deuses decidiram jogar um jogo em meio aos mortais, mas o que eles não sabiam era que com o declínio dos costumes egípcios faria com que eles ficassem presos no mundo mortal, e pior, sem suas memórias e seus poderes, dentro de corpos humanos.
Agora, Anúbis encontrou um jovem chamado William, que pode ser o avatar de um deus, e juntos partem em busca de por um fim nisso tudo, mas a única forma de dar um fim nisso é continuar jogando, e as regras do jogo ordenam que se removam as demais peças, até que só reste um deus.



   Uma estranha dor de cabeça se apoderou de William. O mundo girava e um grande zumbido ameaça estourar seus tímpanos. Era como se tivessem dado uma pancada na sua cabeça, a visão turvou e tudo que ele conseguiu ouvir foi “Você tá legal, cara?”. Depois, só trevas.
   Em seguida William acordou, pensou que estivesse num hospital ou coisa do tipo, mas ainda estava naquela mesa de bar. Sua alucinação não durou um milésimo de segundo.
_ Prazer em conhecê-lo? – disse um desconhecido à sua frente.

   William, raciocinou por um minuto e depois cumprimentou o estranho. “O prazer é todo meu”. E depois se levantou e, pedindo desculpas aos colegas, se dirigiu ao banheiro.
   A torneira liberou uma água muito gelada. William encheu a palma das mãos e se curvando, lavou o rosto. Levantou sua cabeça e tentou refletir sobre o que estava acontecendo.
   Alguns segundos se passaram enquanto o narciso¹ se contemplava. Lembrou que estava na happy hour com seus amigos e um deles chegou com um conhecido e os apresentou, foi somente aquele conhecido chegar perto e William foi tomado pela dor de cabeça, depois tudo passou.
   Quando William retornou, o estranho permanecia ali. Parecia mais interessado em estar ali do que anteriormente. Quando William se aproximou ouviu os amigos comentarem que o estranho era vizinho de apartamento do colega que o trouxe. Vivia sempre recluso e o amigo acabou por “carregá-lo” até ali para se enturmar um pouquinho.

         _ Desculpe-me – disse William se sentando novamente à mesa –, mas não consegui gravar seu nome, qual é mesmo?
         _ Inpu – respondeu o estranho secamente.
         _ Não é estranho, eu disse isso para ele. É o que mesmo, chinês? – comentou o amigo meio embriagado, fazendo com que Inpu se lembrasse que estava detestando aquele local.
         _ Na verdade é copta, o idioma do Egito, meu avó era de lá.
         _ Copta? Achei que falavam hieróglifo! – gargalhou um colega totalmente embriagado.
        
   Inpu, com um olhar de reprovação, abriu a boca para explicar, mas foi cortado por William:

_ Bom, é... Na verdade, hieróglifo é só a escrita, não a fala.

   Inpu não pode conter um sorriso. Todos ficaram ali por um bom tempo. William acabou fazendo amizade com Inpu que tinha um jeito recluso mais próximo do jeito dele. Ao irem embora Inpu fez questão de pegar um ônibus.
         _ Acho que você não está em condições de dirigir – disse para o vizinho que o trouxera.

   Ao chegar em casa, William tomou um bom banho e caiu no sono, nem se lembrava do mal estar que passara. O álcool tem um poder de despreocupação formidável, mas nem todo o álcool do mundo faria com que ele se esquecesse do estava para acontecer.
   William corria por um corredor  de pedra rústicas e sentindo-se clastroufóbico, correu em direção duma luz no final do corredor. Chegando lá, pensou que sairia do local, mas o piso desapareceu e ele caiu num imenso saguão. Estava tudo escuro e quieto, até que várias tochas se acenderam e ele viu um cachorro. O cachorro latiu e saiu correndo, William começou a segui-lo até que o cachorro atravessou a parede. William pensou em parar, mas num impulso, se jogou contra a parede e, atravessando-a, viu-se num segundo saguão, igual ao primeiro.
William procurou pelo cachorro, mas não o encontrou. Foi então que viu uma criatura horrenda se aproximando, era uma espécie de dragão, mas tinha cabeça de crocodilo, corpo de leão e ancas de hipopótamo. Era realmente horrível, e ia crescendo a medida em que se aproximava.
Quando o monstro se aproximou abriu a bocarra e tentou devorar William. Ele, paralisado com aquela visão, sentiu um cheiro terrível vir do hálito daquela criatura. Era cheiro de morte.
   A campainha tocou e William acordou, era tudo um sonho e ele estava ensopado de suor. A campainha tocou novamente e William olhou as horas no rádio relógio. Dez horas da manhã.
         _ Já vai! – gritou.
        
   Abrindo a porta, se deparou com Inpu. Ele apenas viu a porta aberta e foi entrando, tinha uma mala cheia e parecia que estava se mudando.

         _ Tome um banho, tire essa cara amassada. Quanto mais rápido você se arrumar, mais rápido respondo suas perguntas e damos no pé daqui.



¹ Narciso: na mitologia grega, herói que, contemplando sua beleza no reflexo da água, ficou apaixonado pela sua própria beleza e se afogou, em busca de si.