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20 de março de 2013

Peças no Xadrez

   Na madrugada de ontem, foi encontrado morto na quadra B-4, um jovem soldado da guarda real branca. Um colega de serviço encontrou o corpo já frio e imediatamente convocou a cavalaria que constatou uma ferida no peito que pela espessura, foi feita por uma espada de gume longo, já que o objeto perfurou o coração, mas não exibiu marcas de que se havia chegado nem mesmo na metade da lâmina.
A espada do soldado foi encontrada junto do corpo sem nenhuma impressão digital que não fosse a sua, sua malha de couro foi rasgada na alça e havia um hematoma próximo ao seu olho esquerdo, provavelmente feito por um punho de espada ou algum objeto do tipo.
   A polícia convocou de imediato os vigias das torres brancas e como o vigia da torre da quadra A-1 pode demonstrar, nenhuma delas possuía visão da quadra B-4, o que acabou por ser muito inconveniente para a investigação.
   Segundo o relato do guarda-costas de sua majestade, o rei branco, a vítima era guarda da catedral localizada na quadra C-1 e tinha muita amizade com o guarda-costas da rainha branca, que foi quem o encontrou morto. A amizade dos dois chamava a atenção de todos pela troca de favores que um prestava ao outro, segundo testemunhas, os dois amigos já teriam inclusive trocado de postos diversas vezes.
   Segundo a investigação da Polícia Montada das Peças Brancas (PMPB), o guarda-costas da rainha é um forte suspeito do homicídio já que essas trocas de favores podem ter feito com que o mesmo ficasse no prejuízo e quisesse fazer um acerto de contas com seu amigo na fronteira do reino branco, bem longe do alcance das torres. Mas ainda não há provas contundentes, uma vez que a espada dos peões é do tipo gládio e assim, curta demais para provocar o ferimento que a vítima tinha.
   Uma denúncia anônima revelou que o peão assassinado era um amante da rainha branca. Isso justifica o porquê das trocas de postos e coloca mais um indivíduo sob suspeita, o governante que ao saber da traição de sua esposa poderia ordenar a morte do amante ou até matá-lo com suas próprias mãos, no caso, com sua espada longa do tipo rapieira que deixaria perfeitamente as marcas mortais do indivíduo. Numa busca pelo castelo real branco, localizado nas quadras D-1 e E-1, a polícia encontrou a espada do rei abandonada nos aposentos reais e o monarca não estava presente. A rainha indagou de que seu marido havia saído em roque para a quadra G-1 e estava sob a proteção da torre branca direita então a polícia não pode contatá-lo, mas esse ato só piorou a situação do rei branco que se tornou a principal suspeita, mas qualquer um que tem acesso ao castelo pode ter pêgo a espada abandonada nos aposentos reais.
   Numa dessas fofocas corriqueiras que correm pelo reino, saiu o boato de que o bispo poderia ter cometido o crime, pelo fato do guarda-costas se recusar a servir o epíscopo. Muitos cidadãos comentam que o bispo teria matado o peão por ele se declarar contra a ação da Igreja. Segundo alguns peões, a vítima teria se queixado abertamente sobre o poder da Igreja nos dois reinos, mas a polícia descarta essa alternativa por não ser digna de confiança, já que o bispo poderia acusar o guarda de heresia e levá-lo ao tribunal.
No mesmo dia, os bispos brancos foram se encontrar com os negros na fronteira e ainda estão reunidos ali. A polícia não descarta a hipótese de os clérigos terem cometido o crime para evitar escândalos de adultério dentro da nobreza branca, também é de se levar em consideração que todos os prelados portam espadas do tipo rapieira, a mesma do rei.
   A reunião dos bispos na fronteira também levou os cavaleiros a pensarem na hipótese de o ataque ter vindo das peças negras, já que o peão fora assassinado junto da fronteira dos reinos. A rainha não gostou da ideia da investigação ir além da fronteira, pelo fato de os reinos estarem em clima de guera, mas a polícia ignorou a ordem da governante e foi a procura da Polícia Montada das Peças Pretas (PMPP) tomar conhecimento da relação dos vizinhos com o guarda morto e também descobrir quem havia se aproximado da fronteira.
   As polícias unidas descobriram que quatro soldados pretos estiveram próximos da fronteira. Duas duplas se refezaram como vigias e segundo os registros, o horário de troca das duplas bate com o horário do homicído. Ao serem interrogados, os sentinelas negam qualquer movimento.
   Com insucesso da investigação além muros, a polícia retornou ao reino e voltou seu olhar para a rainha. Estaria a governante cansada de seu amante? Teria ele feito uma chantagem à donzela e sido silenciado? Quem de fato fizera a denúncia? A rainha nega toda estória e disse inclusive que se trata de um trambique vindo da peble. O rei e os bispos ainda não retornaram, as especulações são muitas e diante da incapacidade policial, o crime se mantém sem solução.